Casal de produtores rurais Daniela e Deco reformou a propriedade, melhorou o capril e ampliou a lanchonete de seu sítio para receber turistas
Daniela e Adalberto Silva vivem em um sítio de 2,5 alqueires, a um quilômetro de Iporanga, no Vale do Ribeira. Criam cabras, galinhas e vacas, além de cultivar uma roça de palmito. O rio Iporanga banha a sua terra.
“A gente olha o rio todo dia e não consegue ver o potencial desse rio. Então, o Programa abriu muito a minha visão. Eu comecei a ver diferente: onde eu achava que uma árvore era simplesmente uma árvore, eu já vi um potencial daquela árvore para conseguir atrair o turismo”, conta o agricultor.
Ele e a esposa estão entre os 16 alunos formados pelo Programa de Turismo Rural realizado no ano passado pela FAESP/SENAR-SP em parceria com o Sindicato Rural do Vale do Ribeira, em Registro, e a Casa de Agricultura de Iporanga.
“Eu vi um anúncio do curso e decidi fazer. Foi o melhor curso que já fiz na vida, e olha que já fiz dezenas deles. Resolvemos reformar o sítio todinho. Eu fiz um investimento, melhorei o meu capril para fazer turismo de visitação.”
O casal tem uma pequena lanchonete no sítio e a reformou e ampliou também. Começou a alugar o estabelecimento para eventos. “Já estou faturando!”, comemorou ele.
A região tem como principal atrativo as cavernas do PETAR (Parque Estadual Turístico Alto do Ribeira), mas o programa orientado pelo instrutor Clodoaldo Reis foi além, mostrando mais tesouros de Iporanga e do Alto do Ribeira.
“O próprio rio Ribeira é ideal para esportes náuticos. Há os quilombos e uma riqueza cultural e gastronômica”, conta Clodoaldo, que é bombeiro e instrutor do SENAR há 22 anos, tendo já treinado mais de 1.500 produtores.
O curso recebeu 20 alunos da região de Iporanga e se estendeu por todo o ano de 2023, sob comando de Joselma Maria da Silva, coordenadora do SENAR no Sindicato Rural do Vale do Ribeira. “Foram dez módulos de três dias cada, um por mês”, explicou ela. “Todo o Vale é muito rico para o turismo, especialmente Iporanga e Apiaí, por causa do PETAR”. Um programa deve ser aplicado em Apiaí este ano, aponta Clodoaldo.
Clodoaldo foi a todas as propriedades rurais dos participantes, dando dicas e orientações para os produtores de como deixar seus sítios aptos a receber turistas. Foi com essas orientações que Deco decidiu melhorar o capril para receber a visitação de grupos de estudantes.
Deco lembrou que, quando viu que o curso se estenderia por um ano, sua esposa, Daniela, não ficou muito animada, pois seria difícil conciliar todas os afazeres com o estudo. “Agora, ela acabou o curso mais animada do que eu.”
Arroz de pilão
O programa do SENAR estimulou os produtores locais a realizarem o I Festival de Arroz de Pilão de Iporanga. O local escolhido para o evento foi a lanchonete de Deco, a Mukifo Hall. O produtor explicou que a ideia surgiu discutindo com o grupo sobre práticas gastronômicas que tivessem sido passadas por gerações em Iporanga.
O resultado foi um sucesso e a prefeitura, informou Deco, quer incorporar o evento ao calendário oficial da cidade. “Falamos: vamos puxar algo cultural, que seja específico, e se criou o festival.
O arroz foi oferecido por alunos quilombolas. Foi uma maravilha, com empenho de todos; fizemos tudo em dois dos dez módulos do curso”, explicou Clodoaldo.
O instrutor elenca os tesouros do Vale do Ribeira: Aas cavernas, o rio Ribeira, o povo, a culinária e o relevo, por ser uma região montanhosa exuberante. A Casa de Pedra é o maior pórtico de cavernas do mundo. São atrativos muito fortes para compor o roteiro turístico”.
O nome do programa é “Turismo Rural Agregando Valor à Propriedade” e, para Clodoaldo, os 16 produtores rurais que participaram concluíram os dez módulos com ideias importantes para incrementar seus sítios.
Uma das alunas decidiu explorar o turismo náutico e outro participante vai abrir um alambique. “Vai ter uma cachaça específica do Vale”, disse o instrutor. A todos os alunos, Clodoaldo dá a principal dica: “O turismo não é a salvação da lavoura, não vem para substituir nada, mas pode contribuir muito com a renda. No caso da cachaça, por exemplo, talvez ele dê mais dinheiro que a própria cachaça, mas ele só vai existir ali se aquela cachaça estiver sendo produzida. Se você pensar em substituir a produção pelo turismo, você quebra. É a produção artesanal que é o atrativo do turismo rural.”