Advogada e empresário compartilham experiências e dão dicas de preparo para a migração
Existem inúmeros motivos pelos quais uma pessoa pensa em mudar de país, desde os mais pessoais, como querer viver novas experiências ou ter uma maior qualidade de vida, passando por motivos econômicos e financeiros, até profissionais, como ser transferido no trabalho ou acreditar que em determinado país terá mais oportunidades de emprego.
Segundo o último levantamento do Ministério das Relações Exteriores divulgado no final do ano passado, o número de brasileiros vivendo no exterior nunca foi tão alto. Houve um aumento de 122%, nos últimos 10 anos, totalizando mais de 4 milhões de pessoas morando fora. Só no primeiro semestre de 2021, durante a pandemia, cerca de 130 mil pessoas deixaram o país e não voltaram, segundo dados da Polícia Federal.
Os dados do Itamaraty mostram, também, que quase metade (46%) dos emigrantes brasileiros estão na América do Norte. Outros 30% estão espalhados pela Europa. As menores proporções da comunidade brasileira no exterior estão no Oriente Médio (1,33%) e na África (0,23%). Ainda segundo o levantamento do Itamaraty, os Estados Unidos lideram o ranking dos dez países que concentram mais emigrantes do Brasil. A Europa tem seis países nessa lista, que tem o Paraguai como único representante da América do Sul.
A advogada Patrícia Lacerda, fundadora do Find Out Lawyers – portal dedicado a profissionais do Direito e brasileiros morando fora, que buscam ou enfrentam questões legais no exterior – afirma que existe uma série de cuidados que a pessoa que pretende migrar deve ter, e a melhor forma de mitigar qualquer problema, segundo ela, é através de um profissional especializado e qualificado para auxiliar nesse processo.
“Em primeiro lugar, é importante verificar se o país para o qual pretende se mudar atende às suas expectativas. Isso é muito pessoal, é claro, mas situações básicas devem ser compreendidas, como: sistema de saúde e seu funcionamento ou ainda, em caso de uma migração com crianças, como funciona o acesso às escolas”, acrescentou Lacerda.
A advogada lista uma série de medidas que podem ser tomadas antes de escolher o destino: “pesquisar sobre o país é a principal delas”, reforçou. Além disso, são essenciais informações sobre como validar o diploma profissional; sobre o visto correto para a atividade profissional ou situação pessoal; atentar se há algum tipo de convenção entre os países que facilite essa migração; fazer a declaração de saída definitiva do Brasil; e verificar a necessidade de fluência na língua local.
“A documentação necessária para morar fora do Brasil varia bastante de acordo com o país escolhido. É imprescindível verificar junto ao país de destino o visto específico para a sua necessidade. Mudar de país não é uma tarefa fácil como muitos pensam. A desistência e o retorno para o país de origem são bem comuns. Fatores como solidão, não adaptação à nova cultura e a saudade dos amigos e familiares pesam na decisão. Por isso é muito importante pesquisar, conversar com outras pessoas que imigraram para o mesmo país, além de buscar o auxílio de um advogado especializado no assunto”, completou.
PORTA DE ENTRADA: A LÍNGUA MAIS FALADA DO MUNDO
Outra preocupação essencial para a mudança é com relação à língua. No Brasil, cerca de 95% da população não fala inglês. Entre os motivos está a dificuldade de muitas pessoas com as metodologias tradicionalmente utilizadas para o ensino da língua. Também formado em direito, Bruno Simantob, CEO e fundador da startup Transfer English, precisou do inglês desde cedo para construir sua carreira. Foi durante um estágio em Israel que ele percebeu a importância da língua dentro e fora dos negócios, quando sentiu na pele que as pessoas, mesmo em um país asiático, usavam o inglês para se comunicar.
“Eu passei literalmente minha adolescência inteira tentando aprender inglês, mas sem sucesso. Mesmo me matriculando em diversos cursinhos e tendo aulas particulares, parece que eu tinha alguma trava com o idioma. Passado o incômodo, estabeleci o aprendizado da língua como um foco na minha vida. E assim consegui ter acesso a experiências incríveis como morar um período na Austrália e ter um estágio em Israel, que futuramente abriria meus olhos para o mundo do empreendedorismo de alta performance. Eu jamais teria chegado aqui sem o apoio do inglês na minha vida”, comentou.
O objetivo da Transfer English é mostrar que é possível aprender inglês, uma das línguas mais importantes do mundo, usando a língua-mãe. A edtech usa um método chamado "transferência linguística", que consiste em fazer com que o aluno utilize de elementos da sua língua-mãe para otimizar o seu processo de aprendizagem do novo idioma. Segundo Simantob, isso traz maior conforto e rapidez, por utilizar comparativos e similaridades, tudo em uma plataforma parecida com um serviço de streaming.
A “Netflix de idiomas” se apoia em alguns pilares: paralelos linguísticos, blocos, vocabulário ativo e adaptação, além de atividades interativas e quadros como aulas de culinária e filmes em inglês, para auxiliar no processo de aprendizagem.
As assinaturas partem de R$ 79,90 por mês, no plano anual. A comunidade latina nos Estados Unidos também está no radar de investimento do empresário. “Inglês é uma dor que todo mundo tem. Tivemos um crescimento muito rápido aqui no Brasil, e percebemos que o mercado hispânico tem o dobro do tamanho do brasileiro. Temos uma comunidade latina nos Estados Unidos imensa, são cerca de 34 milhões de pessoas que convivem com o inglês e, ainda assim, não são fluentes”, diz o fundador.