Entidade mostra que Reino Unido apresenta transmissão comunitária, enquanto a Espanha registra clusters (grupos localizados de contágio)
Fechar fronteiras e restringir viagens não são a melhor estratégia para impedir o contágio pelo novo coronavírus, afirmou nesta segunda (27) o diretor-executivo da OMS (Organização Mundial de Saúde), Michael Ryan, chefe do programa de emergências da entidade.
Ryan não comentou especificamente a inclusão neste domingo da Espanha na lista de destinos com quarentena obrigatório no Reino Unido, mas afirmou que esse tipo de cuidado -desde que acompanhado de um conjunto de outras medidas- faz sentido quando um país onde a transmissão está controlada quer evitar a entrada do vírus de países onde ela está ativa.
Segundo relatório da OMS deste domingo (26), o Reino Unido ainda apresenta transmissão comunitária, enquanto a Espanha registra clusters (grupos localizados de contágio).
Ryan afirmou que o crescimento recente de casos na Espanha "está longe da situação inicial" e que o país tem um sistema de vigilância capaz de detectar e encapsular os focos.
Também destacou que o governo não está sendo complacente, mas "vai levar dias ou semanas para conhecer o impacto da reação aos novos surtos".
Segundo o diretor da OMS, países que já conseguiram conter a transmissão precisam reforçar a vigilância para detectar focos e impedir que eles saiam do controle.
"É como uma cirurgia no cérebro: hoje morrem muito menos pacientes, porque a intervenção é cada vez mais precisa. Temos que remover os casos de coronavírus com precisão cirúrgica. Medidas amplas provocam danos muito maiores", afirmou Ryan.
Essa é a abordagem, por exemplo, de estados alemães como a Baviera, que implantou um programa de testes em massa para turistas que voltam ao país.
Foram montadas unidades móveis em fronteiras rodoviárias, aeroportos, estações de trem e de ônibus, com prioridade para os que chegam de 130 áreas listadas como mais críticas.
Outro estado, Mecklenburg Vorpommern, no norte do país, estuda pedir aos que retornam dois resultados negativos nos testes para o novo coronavírus.
Dados da agência europeia de controle de doenças infecciosas mostram que o número de novos casos do novo coronavírus na Espanha quase quadruplicaram em julho, passando de 10,6/100 mil habitantes na quinzena encerrada em 1º de julho para 39,4/100 mil nas duas semanas até 26 de julho.
É menos de um quinto dos 217 novos casos/100 mil habitantes registrados na quinzena que terminou em 5 de abril, quando a Espanha ainda estava em quarentena.
Os números continuaram caindo mesmo depois do início da abertura gradual, em 13 de abril, e chegaram ao nível mais baixo (9,33/100 mil) em 13 de junho, dois dias antes da reabertura das fronteiras internas pela União Europeia.
Os atuais novos casos estão localizados na região nordeste do país, principalmente na Catalunha. O governo britânico, porém, impôs quarentena a todos os que regressam da Espanha, o que causou protestos tanto do setor turístico espanhol quanto de turistas que chegavam do país.
Os britânicos são os principais visitantes do país ibérico, e o turismo é responsável por mais de 11% da economia espanhola, segundo dados da União Europeia.
Nesta segunda, governos das Ilhas Baleares e das Canárias pediram ao Ministério das Relações Exteriores que negociem a inclusão de seus territórios nos "corredores aéreos seguros" do Reino Unido.
Britânicos que voltavam de regiões menos afetadas pelo novo coronavírus também se queixavam de serem obrigados a ficar 14 dias em casa.
Ouvido pelo jornal britânico The Guardian, um deles disse ter ficado em uma cidade sem nenhum caso de infecção: "Eu me senti mais seguro lá, com todos usando máscaras, que aqui, onde só agora isso foi recomendado".
Ryan afirmou que manter o uso de máscaras, distanciamento físico e medidas de higiene são fundamentais para evitar a retomada do vírus, mas precisam ser acompanhadas de políticas de teste, tratamento, rastreamento de contato e isolamento dos suspeitos.
"O que está claro é que a pressão sobre o vírus diminui o número de novos casos. Libere essa pressão e os casos voltam a subir", afirmou.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou também que evitar mortes deve ser a prioridade. "Temos que suprimir a transmissão, mas ao mesmo tempo precisamos identificar os grupos vulneráveis e salvar vidas, mantendo as taxas de mortalidade, se possível, em zero, no mínimo".
Apesar do aumento no número de novos casos, o índice de mortes quinzenais por 100 mil habitantes se manteve em queda e estava em 0,06 nas duas semanas encerradas neste domingo.