Quase cem mil estrangeiros desembarcam todo ano para estudar no país. Entenda por que o Brasil entrou na rota de jovens estudantes e a importância do segmento para o Turismo
A oportunidade de se dedicar aos estudos e de quebra conhecer uma nova cultura tem inspirado, cada vez mais, jovens de todo o mundo a se aventurar em uma experiência de intercâmbio em outro país. Movidos pelo desejo de enriquecer o currículo e – sobretudo – de conhecer culturas diferentes, estudantes de 18 a 32 anos estão expandindo as fronteiras para além de destinos procurados, como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Austrália. E estão redescobrindo o Brasil.
Apenas no ano passado, cerca de 96 mil estudantes estrangeiros escolheram o país para uma experiência internacional, de acordo com a Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais, a Belta. A entidade reúne cerca de 90% das empresas de intercâmbio que atuam no Brasil. São jovens interessados em cursos de graduação e estágios remunerados, em experiências como voluntário e no aprendizado do português, segundo a Associação Brasileira de Intercâmbio Profissional e Estudantil (Abipe) e a Belta. Eles vêm de países como Estados Unidos e Alemanha e permanecem no Brasil de três meses a um ano. Parte deles fica em hotéis e albergues, quando a estadia é curta, outros ficam em casas de família. Como não poderia deixar de ser, aproveitam a passagem para conhecer o país.
Para o ministro do Turismo, Henrique Alves, “o intercâmbio é uma nova força para o mercado turístico brasileiro, promove a cultura de paz e divulga nosso país lá fora, já que os turistas desse segmento em geral disseminam as experiências no exterior”, disse. “Com a Copa do Mundo e a proximidade dos Jogos Olímpicos, o Brasil ficou em evidência – e cresceu ainda mais o interesse dos jovens pelo país”, disse.
Os profissionais que trabalham neste segmento confirmam a tese. Rafaela Rolim, da Belta, coordenadora da área responsável por trazer os estudantes estrangeiros para o Brasil, afirma que estabilidade econômica contribuiu para aumentar o desejo desses jovens pelo país. Para ela, conhecer a cultura, aliás, é tão importante quanto o contato com o conteúdo em sala de aula. “Afinal, este é um dos objetivos da troca de país: explorar a linguagem, se aprimorar nos estudos e entender os hábitos da população, além de visitar destinos nacionais”, afirma. Para o segmento decolar, segundo ela, é preciso estimular a cultura de receber o estrangeiro em casa e facilitar a documentação e o visto para quem vem passar uma temporada de estudos por aqui”, disse.
O intercâmbio é benéfico ao turismo por três razões. A primeira: ajuda a divulgar o país no exterior. Os estrangeiros chegam por indicação de um amigo e passam a indicar o Brasil a tantos outros. É o caso da norte-americana Mary Holland, de 23 anos, que “descobriu” o Brasil após ver as fotos de intercâmbio de um colega de faculdade. Agora, Mary dedica-se a um semestre de gastronomia em uma escola em São Paulo que mantém parceria com sua universidade do Texas, onde deve concluir o curso. A reação em cadeia traz para o país até cinco novos estudantes estrangeiros.
A segunda razão: os estudantes acabam prolongando a permanência no Brasil para fazer turismo. No ano passado, estima-se que o Brasil tenha recebido 6 milhões de estrangeiros, um recorde da série histórica. A finlandesa Ida Catarina Hedmam, de 24 anos, que atualmente faz estágio em Curitiba, já tem planos para o fim do curso: visitar as Cataratas do Iguaçu e a Floresta Amazônica. No tempo livre, foi conhecer a Catedral de Curitiba e o Museu Oscar Niemeyer.
A terceira razão: a estadia no país revela aos estrangeiros um novo Brasil – e amplia o conceito limitado de paraíso tropical. A boliviana Ana Belén, de 20 anos, afirma que tão importante quanto o curso de Administração é compreender a identidade do povo brasileiro. Ela desembarcou no Brasil com a irmã gêmea para estudar no sul do país. “As pessoas são muito prestativas e a música é muito alegre. Desde pequena, sempre sonhei em assistir o Carnaval no Rio de Janeiro”, disse.
Ao se hospedarem em casas de família, os estrangeiros passam a manter vínculos fortes com os anfitriões, de modo que, em alguns casos, são criadas relações comerciais. “A hospitalidade é, sem dúvidas, um grande cartão de visitas do país; quem veio, quer voltar”, diz Rafaela Rolin, da Belta. De acordo com um estudo do Ministério do Turismo (MTur), a ampla maioria dos turistas estrangeiros (97,4%) avaliou positivamente a hospitalidade do povo.
A troca de experiências ainda enriquece a formação de quem convive com esses estrangeiros no Brasil. O MTur apoia o intercâmbio, segmento que se destaca especialmente em períodos de baixo fluxo de visitantes. No ano passado, mais de 100 estudantes brasileiros participaram de um curso de turismo e hotelaria em universidades da Espanha e do Reino Unido, apoiados pelo MTur. A experiência pioneira foi em Portugal, em 2013, com 50 estudantes brasileiros bolsistas.