Jovens escolhem atividades ligadas ao turismo como primeira profissão
Traçar um projeto de vida que inclua o turismo como profissão é um sonho cada vez mais acalentado por jovens de todo o Brasil. A atividade econômica que mais emprega no mundo é também um setor com baixo custo de formação, chances cada vez mais atraentes e áreas diversificadas de atuação.
Duzentos jovens pernambucanos deram o primeiro passo nessa carreira na noite da última quinta-feira, em Olinda (PE). Eles, agora, têm mais que um sonho em comum: o diploma é uma esperança de dias melhores para camareiras, camareiros, garçons, garçonetes e auxiliares de cozinha recém-chegados ao competitivo mercado de trabalho da hotelaria e da gastronomia.
Esta é a segunda turma formada pelo projeto Inclusão Social com Capacitação Profissional, iniciativa financiada pelo Ministério do Turismo em Pernambuco e em outros quatro estados brasileiros. O objetivo é fazer do turismo uma oportunidade profissional, oferecendo cursos de qualificação em diversas ocupações de base do setor para jovens com idade entre 16 e 26 anos, considerados em situação de vulnerabilidade social. A organização não-governamental que executa o projeto no estado é a Childhood Brasil.
Hoje e amanhã
Em 2009, cerca de 87% dos 240 alunos formados pelo projeto conquistaram uma vaga no mercado de trabalho. Agora, as perspectivas não são diferentes: antes mesmo de receber os certificados de conclusão, 30% dos formandos já estavam empregados nos municípios de Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Abreu e Lima e Cabo de Santo Agostinho.
É o caso de Diana Jaqueline. Ela tem 18 anos e logo troca a timidez pela empolgação quando começa a falar sobre turismo. A recém-formada auxiliar de cozinha conquistou o seu primeiro emprego em um restaurante especializado em frutos do mar. A aptidão profissional para lidar com a gastronomia, revelada durante o curso, pode ser o início de uma carreira de sucesso: “é o que eu quero pra mim”, garante.
Para a estudante Edjane Ferreira, 19 anos, um dos planos é congregar turismo e esporte em seu futuro profissional. A prova de fogo veio nos últimos seis meses, quando a universitária de Educação Física dividiu seu tempo entre a faculdade e os afazeres do curso profissionalizante de Auxiliar de Cozinha. “Sou a primeira pessoa a entrar para a universidade na família. Mas me identifiquei muito com o turismo”, diz a estudante.
Segundo ela, a Copa do Mundo 2014 “vai trazer muitas oportunidades para o estado”, e os pernambucanos precisam estar preparados para atender à alta demanda por profissionais qualificados: “só assim não teremos que trazer pessoas de fora para ocupar vagas que poderiam ser nossas”, analisa.
Semente do bem
Para Maria Aurélia de Sá, coordenadora geral do programa TSI (Turismo Sustentável e Infância), do Ministério do Turismo, o projeto reforça a aposta do governo federal de transformar o turismo em importante vetor de inclusão social, geração de renda e empregos no Brasil. “Esse curso é para quem tem iniciativa de mudar a própria história. Além de qualificar pessoas, o projeto sensibiliza e estimula o empresário a contratar esses alunos, o que pode representar uma chance decisiva na vida desse jovem profissional”, afirma.
A política de responsabilidade social foi adotada pelo resort de bandeira portuguesa Vila Galé, um dos parceiros do projeto em Pernambuco. Segundo Simão Teixeira, gerente geral do empreendimento hoteleiro instalado em Cabo de Santo Agostinho (PE), a contratação de quatro egressos dos cursos “representou o atendimento à carência de pessoas com formação nessa área”. Investir no desenvolvimento humano e profissional desses jovens trouxe resultados imediatos para o negócio, diz Teixeira: “o entusiasmo deles com o trabalho é sensacional”, avalia. Ele acompanhou de perto a evolução dos alunos durante parte das 288 horas/aula de curso, o que ajudou na seleção de “posturas exemplares”.
Outro foco do projeto é trabalhar pela erradicação da violação dos direitos da criança e do adolescente. Segundo Itamar Batista, coordenador de programas da Childhood Brasil, enfrentar a exploração sexual é uma luta cada vez mais árdua no Brasil e no mundo: “a parceria entre os setores público e privado é a alma dessa mudança”, assegura. Com a redução do tempo ocioso desses jovens e o envolvimento da família no processo de formação, os cursos contribuem para mitigar riscos sociais e estimular a promoção de um futuro autônomo para esse público-alvo.
Em Pernambuco, o projeto Inclusão Social com Capacitação Profissional é realizado em parceria com o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e tem o apoio dos governos municipais e estadual de Pernambuco, empresariado local e entidades do terceiro setor que lutam pela proteção dos direitos da criança e do adolescente.