Quem será o interlocutor do turismo com os presidenciáveis e que proposta apresentaremos?
O Salão do Turismo reúne o trade turístico nacional e a pauta entre as lideranças é o Documento Referencial 2011/2014, que foi elaborado por um grupo de trabalho do Conselho Nacional de Turismo. As 13 entidades do CNT iniciaram este trabalho ainda na gestão do secretário nacional de Políticas do Turismo, Airton Pereira, e prosseguiram em reuniões quase que quinzenais até a redação final de um documento completo, isento e sem nenhuma característica de chapa branca. O diagnóstico representa uma valiosa contribuição para o setor, especialmente em um período eleitoral.
Os candidatos à Presidência da República terão agora um norte e as propostas elencadas resultaram em uma proposta republicana, que coloca os interesses do turismo muito além de uma política de Governo. Este resultado deve ser creditado à mobilização dessas lideranças do trade turístico, que custearam os seus constantes deslocamento a Brasília e participaram da imersão e debates que afastaram qualquer traço que levasse o documento a se transformar em uma peça de defesa das ações de um governo. Para que este resultado fosse atingido é necessário ressaltar o espírito republicano dos atuais gestores do ministério, de forma especial o próprio ministro Luiz Barretto e os secretários Mario Moyses e Carlos Silva, além do coordenador do trabalho, o diretor do MTur, José Falcão.
Esta interface entre a iniciativa privada e o poder público e a disposição de se produzir, através do Conselho Nacional de Turismo, um documento que serve como referência para os próximos quatro anos do nosso setor é fruto de uma convivência harmoniosa entre o poder público e a iniciativa privada e deve-se destacar o espírito apartidário que tomou conta de toda a equipe.
Devemos, porém, ficar alerta para que o conteúdo deste documento não migre e nem seja usado como base para o surgimento de “novos documentos”, que sem o controle do colegiado que o redigiu ou até mesmo por uma necessidade de síntese, acabe excluindo ou até enxertando proposições que não foram aprovadas democraticamente.
O alerta deve ser dado no momento que a Comissão de Turismo e Desportos da Câmara dos Deputados e a quase extinta Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado preparam-se para realizar uma nova edição do Cbratur, com o apoio da Confederação Nacional do Comércio (CNC), cujo objetivo é, em junho, em plena Copa, apresentar aos candidatos um texto que terá a sua coluna vertebral extraída do trabalho do Conselho Nacional de Turismo.
Ao contrário dos documentos anteriores preparados pelo Cbratur, este ano não haverá uma consulta nacional às bases. Os próprios deputados e senadores, envolvidos na luta eleitoral, terão este ano uma participação pífia, levando apenas a homologar um documento, que poderá ter características frankensteins, que poderão confundir muito mais do que esclarecer e nortear o futuro. A própria proposta da extinção da Comissão do Senado já fragiliza este fórum, sem contar que a CTD da Câmara está sendo ocupada por uma parlamentar, a deputada Raquel Teixeira, do PSDB-GO, que é neófita em turismo, que atropelou um outro parlamentar do seu partido, o deputado Otávio Leite, reconhecido como um dos especialistas do setor.
A deputada Raquel Teixeira está hoje presa à irreversibilidade de um calendário que a obriga a chancelar um documento elaborado a partir do texto de um grupo de trabalho legitimado pelo Conselho Nacional de Turismo e composto na sua maior parte pela iniciativa privada, mas que terá o seu texto mexido e remexido por uma entidade sindical patronal, que divide hoje a disputa da representatividade do turismo com a Confederação Nacional do Turismo (CNTur).
Com a sua voz e representatividade garantida por sua carta sindical,a CNTur não deve ser excluída da interlocução com o parlamento e a CTD não pode se dobrar e ficar com apenas um dos lados dessa moeda. Principalmente quando este lado traz como contribuição o texto que é fruto de um documento escrito por outros autores e não do trabalho da sua equipe de especialistas e do debate nacional como ocorria anteriormente.
Não resta dúvida que a metodologia adotada este ano pela CNC contraria a fórmula das edições anteriores do Cbratur e passa a leve sensação de tentar fazer festa com o boné dos outros. Aliás, é preciso registrar que o Cbratur é fruto do mesmo grupo de lideranças que conseguiu criar a CNTur. A idealização e as primeiras edições tiveram esta origem e só depois foi assumida pela CNC. O Salão do Turismo é uma boa oportunidade para que as lideranças reflitam sobre o que ocorrerá no diálogo como os presidenciáveis para que as propostas que nortearão os próximos quatro anos não seja uma sobra do que foi amplamente discutido.
Um alerta também à CNC para que evite o caminho do atalho, que não combina com a sua dimensão estrutural e com o quilate do seu corpo de técnicos. Alerta também para que a Câmara e o Senado pareçam ter escolhido involuntariamente um dos lados nesta questão de disputa sindical patronal e apresentem ou endossem um documento que seja parcialmente sugado do trabalho intelectual de terceiros.
Cláudio Magnavita, presidente da Abrajet (Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo), membro do Conselho Nacional de Turismo e presidente da Aver Editora.
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