Por: José Matheus Santos
O aparecimento do peixe-leão em praias do Nordeste brasileiro tem ligado o alerta de ambientalistas e autoridades da região. Isso porque o animal é considerado uma ameaça tanto para o ecossistema marinho quanto para os seres humanos.
A espécie possui espinhos que contém veneno e podem causar dores, convulsões e até paradas cardíacas –como aconteceu com um pescador na Praia de Bitupitá, em Barroquinha, no Ceará, no dia 18 de abril.
Francisco Mauro da Costa Albuquerque, 24, pisou em um peixe-leão e foi levado a um hospital da região com dores e convulsões provocadas pelo veneno do animal. O pescador chegou a ter duas paradas cardíacas até ser reanimado por médicos.
No Ceará, o Pterois volitans, nome científico do peixe-leão, já foi localizado em Camocim, Acaraú, Cruz e no município de Jijoca de Jericoacoara, uma das praias mais conhecidas do país. No Piauí, em Cajueiro da Praia, próximo à divisa com o Ceará.
"Até agora, foram encontrados 30 indivíduos [no estado], mas à medida que os anos forem passando, a quantidade pode aumentar, se não houver um controle ambiental por parte das autoridades", diz o professor Marcelo Soares, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
No arquipélago pernambucano de Fernando de Noronha, a captura mais recente aconteceu no dia 22 de abril. Já foram capturados 49 peixes-leões e outros 23 foram vistos. Há ainda outros três casos suspeitos investigados.
O animal tem sido encontrado em até de oito metros de profundidade no Brasil.
Uma das preocupações de pesquisadores é com a possibilidade do peixe-leão se alastrar rapidamente pelo litoral, já que a fêmea reproduz a cada quatro dias.
"Não há dúvidas que o peixe leão está em fase de expansão no litoral nordestino.
Possivelmente, estruturas artificiais como barcos naufragados e marambaias [estruturas que os pescadores colocam no fundo do mar para agregar lagostas e peixes, facilitando a pesca] estejam sendo utilizados pelos peixes-leão como trampolins", afirma o biólogo Cláudio Sampaio, professor da UFAL (Universidade Federal de Alagoas).
O peixe-leão também pode causar desequilíbrio ecológico entre os bichos marinhos, já que é predador de outros animais.
"Como os peixes nativos do Brasil não conhecem o peixe-leão, nunca tiveram qualquer contato com essa espécie que é uma predadora eficiente, são facilmente comidos em grande número, causando impactos negativos nos recifes e consequentemente prejuízos na pesca", acrescenta Sampaio.
Além dos impactos biológicos, a pesca também sofre consequências –e caso o animal se alastre, há o temor que isso afete o turismo.
O ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) em Fernando de Noronha acredita que a população do peixe-leão vai aumentar no local em um futuro próximo e pode pôr em risco a fauna marinha local, de acordo com um relatório do órgão.
"Noronha é um ambiente insular especial, mas pode se tornar pobre em vida marinha e perder seus atrativos e valores turísticos com a chegada do peixe-leão", acrescenta o instituto.
A origem do peixe-leão é no Oceano Indo-Pacífico, mas a espécie está presente também nas águas do Caribe, no Atlântico Norte. Não há confirmação de como o animal veio parar nas águas do Atlântico Sul. Uma das hipóteses discutidas é que tenha sido trazido por correntes marinhas.
Pesquisadores reafirmam a necessidade de uma política pública em larga escala, incluindo capacitação de pescadores e mergulhadores. "O tempo é algo precioso, nesses casos de bioinvasão, para a tomada de medidas mais eficientes de manejo, fundamentadas nas melhores informações. Atualmente a velocidade da invasão é alta, fazendo com a implementação de manejo seja urgente", afirma Sampaio.
Beneficiado por atividades frequentes de mergulho, Fernando de Noronha monitora o cenário em parceria com empresas do arquipélago e capacitações para captura e repasse de informações do peixe-leão.
No arquipélago, o ICMBio faz imersões mensais em áreas onde não é permitido mergulho ou são pouco visitadas e também em localidades onde houve avistamento de peixes, sem a sua captura.
Em Jericoacoara, as buscas irão se intensificar quando a visibilidade da água melhorar, o que deve acontecer nas próximas semanas.
"Estamos esperando dar uma trégua na água doce para fazer mais buscas. Mas tudo indica que, nas áreas de muitas pedras, deve ter muitos peixes leões", diz Chico Bento, secretário de Aquicultura e Pesca de Jijoca de Jericoacoara.
A orientação dos especialistas é que, independentemente de localidade, o banhista ou pescador que se deparar com a espécie do peixe-leão mantenha distância e avise os órgãos competentes.