Natureza e baixa ocupação atraem pais e filhos cansados do confinamento
Beliches deram lugar a camas de casal em acampamentos de São Paulo. Especializados em receber crianças e adolescentes, esses espaços precisaram se reinventar durante a pandemia.
Os estabelecimentos agora hospedam famílias, mas cada um se adaptou de um jeito –alguns mantiveram o estilo rústico e outros passaram a oferecer um serviço luxuoso.
O Sítio do Carroção, em Tatuí (SP), é o que mais investiu na hotelaria. O acampamento, que já tinha ar-condicionado e frigobar nos quartos, inaugurou 25 apartamentos familiares com serviço de concierge, que fica à disposição dos hóspedes pelo WhatsApp.
As refeições são à la carte, e só o café da manhã está incluído no valor da diária (veja preços ao lado). Há serviço de piscina e arrumação das suítes, com chocolates de cortesia.
"Existe uma demanda reprimida de pessoas que tinham viagens para fora e não conseguiram ir. É um público exigente, que precisa de estrutura, e conseguimos chegar a esse patamar de serviço", diz Flávia Stopiglia, relações públicas do Carroção.
As atividades do local, que vão de caverna com piscina aquecida a pista de corrida, podem receber no máximo três famílias por vez.
Até o final do ano, todos os fins de semanas já estão reservados, mas há vagas ainda para dias de semana. Segundo Stopiglia, o Carroção estuda abrir mais datas em janeiro e fevereiro para esse modelo de hospedagem.
Durante uma semana em julho, o acampamento NR, em Santo Antônio do Pinhal (SP), hospedou famílias que buscavam aliviar os efeitos do confinamento. E, então, enxergou ali uma nova oportunidade.
"A gente imaginou que voltaria a atender escolas em setembro. Quando vimos que isso não aconteceria, percebemos que era preciso nos reinventar e abrir em um esquema mais próximo ao de um resort", diz Kito Vivolo, diretor-assistente do acampamento.
Em setembro, o NR investiu no conforto dos quartos, que ganharam camas de casal e de solteiro, roupa de cama (antes, os visitantes levavam a sua) e mesas de cabeceira.
A enfermeira obstetra Cinthia Calsinski, 41, visitou o local com seu marido, que é médico, e os três filhos em julho. "Me senti segura, você fica 90% do tempo ao ar livre. Foi um investimento na saúde mental das crianças."
A família gostou tanto da experiência que voltou ao acampamento em setembro e tem reservas para o feriado de Nossa Senhora Aparecida, que cai na próxima segunda (12).
Por enquanto, o NR abre aos fins de semana e feriados, até o final de novembro.
Em Embu-Guaçu (Grande São Paulo), o acampamento Aruanã também decidiu receber crianças com seus pais a partir de julho. Por lá, a estrutura se manteve rústica, apesar da inclusão das camas de casal e de um bar. Cada um deve levar lençóis e toalhas.
"Faz parte da filosofia do acampamento você aprender a arrumar sua cama, então as pessoas não podem vir para cá pensando que estarão em um local com luxo", diz Camila Gaudio, diretora-financeira.
Cada família fica com um monitor exclusivo, e as atividades são pensadas de acordo com o grupo. O local também aceita cachorros.
O acampamento abre aos fins de semana e feriados, e a direção pretende manter esse modelo de negócio depois da pandemia, para complementar a renda em meses com ocupação baixa das escolas (primeiro semestre e agosto).
O Aruanã recebia até 200 crianças por dia, mas agora trabalha com até 50 pessoas.
A baixa ocupação, um dos principais atrativos dos acampamentos no momento, também faz com que a hospedagem de famílias não seja lucrativa em nenhum dos estabelecimentos citados. "É para manter os funcionários motivados, mostrar que essa fase vai passar", diz Gaudio.
Em Leme (SP), o RepLago, que antes recebia até 230 crianças, agora trabalha com no máximo 13 famílias por vez. Cada uma delas tem um monitor à sua disposição durante dez horas do dia.
Por ali, o forte são as atividades no lago da propriedade. Os visitantes até assistem a filmes de dentro de barcos, em um telão fixado na margem.
O RepLago fica aberto todos os dias e criou um espaço no qual os pais podem trabalhar, e os filhos, fazer suas tarefas escolares virtuais.
O bancário Leonardo Sakae, 45, foi com a mulher e os dois filhos para lá em julho. "Estávamos presos no apartamento desde março, e essa ida ao Replago foi uma libertação psicológica para nós", diz.
"Existem lugares mais luxuosos, mas não é o que buscamos agora. Voltamos mais felizes como família, porque brincamos juntos", completa.
As atividades foram adaptadas para serem feitas com adultos e em grupos menores. Segundo Lúcia Ribeiro da Luz, diretora-financeira do local, o intuito é que os pais brinquem com os filhos e que não haja interação entre famílias que não se conhecem.
O espaço vai receber famílias até o final do ano. Depois disso, as ações vão depender da situação da pandemia. "Está sendo divertido, mas não vemos a hora de receber só crianças novamente", afirma Luz.