Brasileiros viajam menos ao exterior e hotéis de lazer têm alta de ocupação. Outras empresas do setor de turismo tiveram bons resultados, mas abaixo da meta.
Demorou, mas a alta do dólar acabou pesando no bolso de que vinham lotando os aviões para destinos no exterior. Os gastos dos brasileiros lá fora sofreram nova queda, agora de 43,4% em relação a novembro de 2014, segundo o Banco Central. Levantamento com hotéis de lazer, de negócios e outras empresas do setor de turismo representados pela assessoria de comunicação B4T mostra altas ocupações em resorts e retração no turismo de negócios e eventos.
Os hotéis Radisson Faria Lima (São Paulo), Radisson Alphaville e Comfort Suites Alphaville (Barueri), que recebem mais hóspedes de negócios, declaram ter sentido a crise, sobretudo no segundo semestre. “No primeiro semestre, tivemos excelentes resultados e conseguimos manter a previsão que havíamos feito. Porém, a partir de julho, o ano não foi o mesmo. As empresas e as demandas ficaram bem mais retraídas”, diz Danieli Pompeu, gerente de vendas do Radisson Faria Lima. Sua colega Mariana Fiore, que gerencia os dois empreendimentos de Alphaville, complementa: “As crises política e econômica deixam as empresas inseguras e, com isso, temos retração em nosso segmento. Não estamos prevendo crescimento para 2016, mas ao menos que a demanda se mantenha como em 2015”. Para o ano que vem, entretanto, a gerente confirma a continuidade de melhorias nos empreendimentos iniciadas este ano, como reforma de áreas comuns e de apartamentos.
O Quality Resort Itupeva, mais conhecido por sua estrutura de eventos corporativos, vendo a demanda diminuir, investiu também no turismo de lazer. “As empresas estão mais cautelosas, reduziram a quantidade de dias para duração das reuniões e estão atuando fortemente na redução de preços. Este cenário nos preocupa muito pois, com a inflação, os custos aumentam e apertam as receitas”, afirma Michele Tavares, diretora de vendas do resort. No segundo semestre, porém, por conta do investimento na estrutura de lazer, o empreendimento registrou melhor ocupação nos feriados e finais de semana em relação ao primeiro semestre. Em dezembro de 2015, o Quality comemora 10 anos de operação, que serão marcados pelo recorde de ocupação no Natal e no Ano Novo. “Este fato é resultado da crise, que aqueceu ainda mais a demanda de lazer interna. Estamos há mais de dois meses com o pacote de Ano Novo esgotado”, confirma a executiva. A região onde o Quality Resort Itupeva está localizado tem sido chamada de “a Orlando Paulista”, pela facilidade de acesso (próximo da Rodovia dos Bandeirantes, a 40 minutos de São Paulo ou de Campinas e a 20 minutos do Aeroporto de Viracopos) e pelas opções de atividades como os parques Hopi Hari e Wet’n Wild e o centro de compras Outlet Premium. Michele também confirma investimentos para 2016, como ampliação de uma sala de eventos e uma obra para dobrar a capacidade do restaurante e da cozinha. “Queremos crescer 9% em 2016”, anuncia.
No Mavsa Resort, localizado em Cesário Lange, a 90 minutos da capital paulista, e no Infinity Blue Resort & Spa, único resort de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, famosos pelas estruturas e programações de lazer, 2015 se encerra de maneira positiva apesar de tudo. “Em 2014, crescemos quase 60% em ocupação. Em 2015, esse crescimento foi de 85%. Todos os finais de semana do segundo semestre e feriados tiveram ocupação de 100%. Pela primeira vez, nosso pacote de Natal esgotou, algo que só acontecia com o pacote de Réveillon. Porém, o turismo de negócios não acompanhou esse crescimento”, disse Nilva Meireles, gerente comercial do Mavsa. Mas o resort paulista planeja, para 2016, dobrar a capacidade de seu Centro de Convenções, que passará a acomodar 2 mil pessoas, e aumentar em 50% o número de apartamentos, chegando a 150 unidades. A alegria é compartilhada por Alberto Cestrone, diretor geral do Infinity Blue. A ocupação do resort cresceu 6 pontos percentuais e a receita foi 21% maior em comparação a 2014. “Estamos avaliando a possibilidade de uma ampliação do nosso empreendimento a fim de atender a demanda e projetamos um crescimento de 10% em receitas para 2016”, afirma Cestrone.
Outras quatro empresas do setor declararam ter tido um ano positivo, mas que poderia ter sido melhor. Willian Cavalcanti, sócio fundador da Machu Picchu Brasil, operadora de viagens especializada no Peru, confirma o primeiro semestre muito bom: “A partir do mês de setembro identificamos uma baixa maior, porém, conseguimos atingir um crescimento de 80% em receita de vendas no ano”. O executivo prevê crescimento menor em 2016, da ordem de 50%. “Esperamos que haja uma melhora econômica para estabilizar o valor do dólar. Assim, o consumidor deverá voltar a viajar com mais frequência para o exterior, especialmente para destinos mais próximos do Brasil, como o Peru”, confia Willian, que promete para 2016 uma nova plataforma de interação e vendas voltada apenas para o atendimento do viajante independente.
A R1 é uma empresa que fornece equipamentos de áudio, vídeo e informática para eventos, especialmente em hotéis, onde mantém cerca de 25 postos de atendimentonos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Pernambuco. O fundador, Raffaele Cecere, afirma: “Tivemos um faturamento 25% superior ao do ano passado, porém, se não fosse a crise, teria sido de 40%”. Para aumentar os serviços que oferece e, consequentemente, o faturamento, a empresa fez parcerias com uma empresa de tecnologia para a criação de softwares para os hotéis e com um fornecedor de cenografia em tecidos com tecnologia inovadora. “Em 2016 queremos chegar a 50 hotéis parceiros”, revela.
Nos últimos 10 anos, a frota de veículos disponíveis no mercado de locação dobrou segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis. Além disso, a procura por meios de transportes alternativos ganha destaque ano a ano, pois muitos viajantes preferem a liberdade e o conforto proporcionados pela locação de um carro de acordo com suas necessidades. Na análise de Francisco Millarch, CEO do Rentcars.com, principal site de comparação de preços para locação de automóveis da América Latina, o ano de 2015 foi desafiador, porém, de alto crescimento para a indústria de rent-a-car no Brasil. “De toda forma, a crise afetou um pouco o perfil de locação, mas muitos clientes apenas mudaram a categoria do veículo a ser locado, ou o destino de sua viagem, não deixando de realizar a transação na maioria dos casos”, conta o executivo. “Crescemos mais de 30% nas locações domésticas e 120% nas locações internacionais. Por isso, no próximo ano, pretendemos expandir nossa atuação de forma global, garantindo que, além dos brasileiros, mais estrangeiros também possam alugar veículos por meio de nossos canais”, planeja Millarch.
Carolina Sass de Haro, da Mapie, empresa especializada em gestão estratégica de serviços, diz estar percebendo um foco dos clientes em projetos mais estratégicos, pois estão precisando priorizar seus investimentos. “O ano de 2015 foi difícil, apesar de termos realizado projetos bastante relevantes como o Nomaa Hotel e a Mercadoteca, em Curitiba, e de termos dado continuidade a projetos importantes na Accorhotels, InterCity Hotels, Rio Quente Resorts, entre outros”, comenta a executiva, que se declara otimista. “É preciso inovar na forma de fazer, trabalhar com foco e determinação e saber priorizar para fazer um 2016 próspero “, completa.