Estatísticas decrescentes, somadas a custos em elevação e cenário de desaquecimento econômico, reforçam quadro que pode trazer resultado operacional negativo recorde para a aviação em 2015
A demanda1 por transporte aéreo doméstico teve, em setembro, o segundo mês consecutivo de queda. Depois de recuar 0,6% em agosto, a retração chegou a 0,8% em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado. Nesse cenário de desaquecimento do mercado, a oferta2 foi ajustada aos níveis atuais de procura pelos serviços oferecidos pelas companhias, sendo reduzida em 1,9% no período. Como resultado, o fator de aproveitamento3 das operações registrou melhoria de 0,9 ponto percentual, ficando em 79,58% no mês. O total de passageiros transportados em setembro foi de 7,8 milhões, 1,8% de acima do mesmo mês do ano anterior. Os números são a compilação das estatísticas fornecidas pelas companhias aéreas integrantes da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR).
“Os impactos da retração econômica aparecem claramente. Após uma série de avanços muito pequenos, e agora de duas quedas na demanda mensal, o crescimento acumulado também tem caído”, detalha Eduardo Sanovicz, presidente da ABEAR. “Em janeiro, quando divulgamos o crescimento de quase 6% em 2014, evitamos fazer previsões para 2015 porque sabíamos que essa seria uma temporada complicada, dependendo muito das variáveis de PIB e tarifas. Ela se revelou bem pior que isso”, relata o executivo.
Há cerca de um mês a ABEAR apresentou à sociedade um diagnóstico que evidencia o momento preocupante para a aviação. Ele mostra como a alta acentuada do dólar fez subir fortemente os gastos com combustível e contratos de leasing e manutenção, que representam 60% do total de custos. Aponta também como aumentos importantes de outros itens, como taxas públicas e tarifas aeroportuárias e aeronáuticas, completam a lista de custos em alta.
De acordo com o estudo, com o cenário desenhado para o restante de 2015, com o câmbio próximo de R$ 4,00/US$, os custos do setor devem fechar o ano disparando mais de 20%, para receitas avançando pouco mais de 3%. Esse quadro levaria o setor a um resultado operacional negativo recorde para as empresas brasileiras de aviação, na casa de R$ 7 bi.
Essas perspectivas têm sido apresentadas às autoridades juntamente com uma lista de medidas que poderiam reduzir as distorções que comprometem a competitividade da aviação brasileira no ambiente global, tais como a alteração da fórmula de precificação do combustível de aviação, da tributação sobre o insumo, a revisão de aumentos tarifários e de outros aspectos regulatórios.
Participação de mercado4 – Com 37,40% de market share, a TAM capturou a maior parcela da demanda doméstica no mês. Foi seguida pela GOL, que teve 34,36% de participação, pela AZUL, com 17,78% e pela AVIANCA, com 10,46%.
Acumulado – Ao final do terceiro trimestre de 2015, a aviação doméstica acumula no ano uma oferta com 2,38% de crescimento para uma demanda avançando 3,32%. Com efeito, o fator de aproveitamento teve ligeira alta, de 0,73 ponto percentual, ficando em 80,24%. Já são 71,5 milhões de passageiros transportados até o momento, crescimento de 2,94% sobre os mesmos nove meses de 2014.
Internacional – No mercado internacional, do qual as associadas ABEAR respondem por cerca de 1/3 do total (a maior parcela é detida pelas empresas estrangeiras, o que limita a análise), as estatísticas seguem refletindo a diferença das bases de comparação. Os números de 2015 incorporam o aumento da competição resultante do início das operações da AZUL em dezembro de 2014.
Nesse segmento, a oferta avançou 20,50% no mês, para uma demanda que cresceu menos, 14,37%. A oferta superior à demanda levou à queda do fator de aproveitamento das operações, baixando 4,41 pontos percentuais para 82,25%. Foram contabilizadas 632 mil viagens internacionais no mês, total 16,75% acima de setembro do ano passado.
A participação do mercado internacional entre as associadas ABEAR ficou dividida da seguinte forma: TAM – 79,93%; GOL – 13,10%; AZUL – 6,91%. A AVIANCA teve participação inferior a 1%.
No acumulado do ano, a oferta registra alta de 16,35% e, a demanda, de 14,70%. Com isso, o fator de aproveitamento apresenta retração de 1,17 ponto percentual, caindo a 81,38%. O total de passageiros transportados chega a 5,5 milhões, avançando 16,21% no período.
Cargas – No mercado de cargas, que inclui as estatísticas de TAM CARGO juntamente com as de AVIANCA, AZUL, GOL e TAM consideradas no negócio de passageiros, o segmento doméstico registra 28,5 mil toneladas de bens movimentados em setembro. O número é 9,72% inferior ao registrado em setembro de 2014. No internacional, a quantidade foi de 16,1 mil toneladas transportadas no mês, alta de 15,61%.
Nos nove meses de 2015 a carga doméstica transportada soma 242,7 mil toneladas (-8,73%), enquanto a carga internacional fica pouco acima de 129 mil toneladas (+5,26%).