Com a pandemia, o combo alta do dólar e demanda aquecida fizeram com que os preços dos alimentos avançassem mais do que em anos anteriores
O avanço de preços no fim de ano de itens típicos da ceia é uma tradição natalina, mas em 2020 as expectativas foram superadas. Com a pandemia, o combo alta do dólar e demanda aquecida fizeram com que os preços dos alimentos avançassem mais do que em anos anteriores.
No acumulado em 12 meses, segundo o relatório de novembro da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), as carnes bovinas subiram 29,46% na cidade de São Paulo, enquanto suínos tiveram alta de 50,7%.
Pelo IPCA-15, calculado pelo IBGE considerado a prévia da inflação, as carnes subiram 22,22% em 2020 na média nacional.
O que chama a atenção de Guilherme Moreira, pesquisador da Fipe, é o aumento ainda maior nos últimos meses, especialmente o preço do lombo, um dos itens tradicionais da ceia. Além do componente do dólar elevado, o preço continua sendo puxado pela demanda chinesa, que teve a produção reduzida pela peste suína africana. "O brasileiro está competindo com o consumidor chinês", diz.
A tendência é que o preço continue subindo devido à competição entre a demanda interna e externa, além do aumento de custo de produção para o agronegócio brasileiro.
Segundo a Embrapa, os custos para os produtores de frango tiveram aumento de 36%, enquanto suinocultores gastaram 41% a mais neste ano. "Ano que vem teremos algumas pressões que vêm de algumas tarifas que não foram reajustadas, a pressão sobre os alimentos vai continuar", diz o pesquisador.
Com a alta dos preços - além do distanciamento social por causa da pandemia de Covid-19 -, comerciantes sentem queda nas vendas.
"A saída das carnes por aqui está bem fraca, as compras de fim de ano costumavam começar no fim de novembro", conta Thiago Gaspar, sócio do açougue Porco Feliz, no Mercado da Cantareira, região central da capital paulista. "Os preços estão aumentando toda semana", diz.
Se a opção for carne vermelha, os preços dos cortes não estão convidativos. Segundo a Fipe, as maiores altas acumuladas são na costela bovina (49,09%), acém (42,4%) e fraldinha (38,2%).
No Mercado da Cantareira, comerciantes já sentiram o peso da alta do dólar em produtos importados muito antes das festas de fim de ano.
"Há seis meses um prima donna [queijo holandês] saía a R$ 200 o quilo. Hoje estou vendendo a R$ 230. Castanha de caju está 30% mais cara", conta Gabriel Galdino, dono do Empório Dois Irmãos.
O preço de outros importados também sofre com a oscilação do câmbio. Em uma cotação de Galdino na primeira semana de dezembro, o quilo do bacalhau passou de R$ 51 para R$ 53 dois dias depois.
O comerciante afirma ainda que produtos importados estão demorando a chegar. O roquefort, queijo francês, só voltou a aparecer recentemente.
Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), houve um recuo de 16,5% nas importações de produtos tipicamente natalinos - como vinhos e espumantes, brinquedos, perfumes, castanhas, pescados, frutas típicas, roupas e carnes processadas– entre setembro e novembro em relação ao mesmo período de 2019.
O resultado se deve à desvalorização cambial, e é o menor valor para o período desde 2009.
Por outro lado, a farinha de mandioca, componente principal da farofa, teve queda de 8,16%. Embutidos nacionais e azeitonas também escaparam das altas.
Na parte de bebidas, houve também pouca oscilação durante o ano. O vinho acumulou alta de 3,13% em 12 meses, enquanto a cerveja subiu 0,69%.
"Os que mais saem aqui são os mais baratos, na casa dos R$ 50. Aumentou a procura por vinho verde e outros mais em conta", explica Eli Ferreira, vendedor da Banca do Ramon, local especializado em bebidas importadas.
Já os rótulos mais caros continuam saindo normalmente, e até aumentaram as vendas durante a pandemia.
"Já vi cliente meu gastar mais de R$ 1 milhão com uísque e outras bebidas", diz.