Viajantes das classes média e alta não estão medindo gastos no exterior já há dois anos
Com o aumento recorde de gastos no exterior em 2011, o poder de compra do turista brasileiro vem ganhando visibilidade na Europa. Viajantes das classes média e alta não estão medindo gastos no exterior já há dois anos e nem mesmo a recente alta do dólar, que começou em agosto, desestimulou o consumo de brasileiros no exterior.
Apesar de os últimos dados disponíveis do Banco Central, de setembro, revelarem uma desaceleração em relação a julho e agosto (mês recorde, com aumento de 46% nos gastos na comparação anual), o nível dos gastos no exterior este ano é recorde. Segundo a OMT (Organização Mundial de Turismo), as despesas dos brasileiros no exterior já totalizam US$ 16 bilhões (R$ 28 bilhões) em 2011.
O valor representa um aumento de 44% em relação ao ano passado, a maior alta entre os países monitorados pela OMT. Os gastos dos turistas chineses cresceram 30,2% e o dos russos, 21%.
Em hotéis de luxo de Paris, como o Bristol (onde a presidenta Dilma Rousseff se hospedou no último sábado) ou o George V, com diárias a partir de 700 euros (R$ 1,66 mil), o crescimento da clientela brasileira ultrapassa a faixa dos dois dígitos, segundo os administradores.
Em outras localidades consideradas sofisticadas, como Saint-Tropez, no Sul do país, e a estação de esqui de Courchevel, o aumento dos turistas brasileiros já chega a 50%.
A reportagem da BBC Brasil encontrou em Paris um grupo de 50 turistas do Tocantins, que depois seguiriam viagem para outras cidades europeias, como Roma, Barcelona e Londres. Várias pessoas do grupo visitavam a Europa pela primeira vez, como a funcionária pública Shirlei de Amorim Próspero. "Quero comprar cosméticos, perfumes, bolsas e artigos de moda em geral", disse ela, que revelou ter R$ 10 mil para fazer compras na viagem.
A historiadora Viviane Fernandes Santos, também do Tocantins, disse que vai privilegiar os passeios culturais e gastronômicos. "A alta do real facilitou a viagem". Mesmo com a recente valorização do dólar, o real ainda mantém uma alta de 5,5% no acumulado do ano.
A designer de interiores paulistana Regina Werneck também visita Paris por uma semana, antes de iniciar uma viagem de dez dias à Índia. Ela já veio a Paris inúmeras vezes e diz que, apesar da alta recente do dólar, os preços de vários produtos no exterior ainda continuam mais atraentes do que no Brasil. "Eu adoro vir a Paris e conhecer lojas que reúnem produtos de decoração, moda e design no mesmo espaço". Na boutique Merci, no Bairro do Marais, apesar dos preços altos dos artigos, ela não resistiu a um perfume e a uma estante flexível para livros, em alumínio. "Custava só 55 euros. No Brasil, não dá para achar um produto com design tão diferente por um preço tão baixo", disse Regina.
Denise La Selva, diretora de uma escola pública em São Paulo e consultora de moda, visita a França pela primeira vez. Como muitas brasileiras, ela não deixou de ir a uma loja da grife Louis Vuitton e comprar uma bolsa. A marca de luxo tem lojas no Brasil, mas, segundo o presidente da grife, Yves Carcelle, os brasileiros fazem muitas compras nas butiques da marca nos Estados Unidos e na Europa. Segundo Carcelle, os brasileiros já estão no ranking das dez principais nacionalidades de clientes da marca no mundo.
Os brasileiros também representaram o segundo maior número (410 mil) de visitantes do Museu do Louvre no ano passado, atrás dos norte-americanos, que chegaram a 650 mil. Em 2007, o Brasil ocupava o 11º lugar no ranking de visitantes do Louvre, mas, em razão do aumento de turistas brasileiros, a administração do museu já estuda traduzir para o português um mapa informativo e documentos na área de multimídia, segundo informou a diretora de Atendimento ao Público, Catherine Guillou.
Segundo a Global Blue, líder mundial no setor de free shop (lojas em portos, aeroportos e fronteiras, sem incidência de impostos locais), os gastos dos turistas vindos do Brasil na França cresceram 49% no ano passado, totalizando 100 milhões de euros. O aumento dos gastos dos brasileiros no país é a maior progressão após a dos chineses, que são os campeões das compras na França. Agência Brasil