Professor falou sobre o papel do turismo na preservação ambiental durante o Abeta Summit 2023, congresso realizado em Grão Mogol, no norte de Minas Gerais
O turismo é um agente fundamental no enfrentamento da crise climática, destacou o gerente de Sustentabilidade e Ações Climáticas da Embratur, professor Saulo Rodrigues Filho, durante sua participação no Abeta Summit 2023 – 20ª Congresso Brasileiro de Ecoturismo e Turismo de Aventura, que neste ano ocorre na cidade de Grão Mogol, na Cordilheira do Espinhaço, em Minas Gerais. “A crise climática precisa ser enfrentada de forma urgente, organizada, planejada, com metas claras de redução de emissão de gás carbonônico”, destacou o pesquisador durante palestra realizada na tarde desta quinta-feira (26).
Hoje, o turismo representa cerca de 10% do PIB global e emite cerca de 5% a 6% de gases de efeito estufa, sendo que 3% desse total está relacionado à queima de combustível da aviação. No Brasil, apontou Rodrigues, o setor corresponde de 7% a 8% do PIB e é responsável por 4% a 5% das emissões de gases na atmosfera. “Se não tomarmos medidas urgentes de descarbonização teremos um futuro sombrio, com desastres ambientais de origem climática cada vez mais intensos, trazendo perdas de vidas e danos às atividades econômicas", alertou.
Como medidas possíveis para a mitigação desses poluentes, o professor citou a importância do fomento a projetos de compensação de pegada de carbono, ação que já vem sendo adotada pela Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo. “A gente tem que fazer uma transição energética nos próximos sete anos muito acelerada, e o turismo precisa fazer parte disso. Já existem ações muito simples, que podem ser adotadas até mesmo pelas empresas de pequeno porte e vão representar mais receita, vão atrair mais visitantes sensíveis à questão do clima”, destacou.
Rodrigues apresentou, ainda, um panorama geral dos acordos climáticos mundiais feitos nas últimas três décadas, começando com a Rio 92 – Conferência da Cúpula das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. “Mas, desde então, os países do Hemisfério Sul vem sofrendo muito mais com danos do que os do Norte”, disse o professor ao abordar a questão da justiça climática. “Juntando as emissões de Estados Unidos, Europa e China, temos 70% de todas as emissões históricas provocadas pela humanidade. Esses países estão produzindo efeitos materializados em eventos extremos que se manifestam com muito mais intensidade no Hemisfério Sul, nos países tropicais e subtropicais”, frisou.
O professor também falou sobre o Protocolo de Kyoto, tratado de 1997 que firmava o compromisso de redução de 5% de emissões de gases de efeito estufa até o ano de 2012 nos países industrializados. Mas o resultado global nesse período foi um aumento de 50% nas emissões. “Isso foi corrigido com o acordo de Paris de 2015, que envolveu países com metas voluntárias”, observou. A partir da convenção na França, conforme Rodrigues, os países passaram a reconhecer a importância da questão ambiental para o mercado, seguindo uma lógica econômica. Desde então, empresas dos mais diversos segmentos vêm montando estratégias dentro das premissas ESG. “Esse movimento não tem volta”, disse.
Alerta máximo
Rodrigues reforçou o alerta de que o efeito estufa tem se intensificado e que a previsão é de que a temperatura média da Terra aumente 1,5ºC. “E esse 1,5ºC é a zona de segurança daqui para o futuro. Um aumento maior do que isso pode levar a efeitos catastróficos, que serão antieconômicos, desumanos, injustos, insuportáveis. Não tem outro caminho, a crise climática veio para ficar e está sobre a nossa mesa. A gente tem que dar um jeito de enfrentar isso”, afirmou.
O professor mencionou ainda a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP 28), que será realizada em Dubai neste ano, onde será apresentada uma proposta de fundo de perdas e danos, indicando os países elegíveis por serem mais impactados pelas mudanças climáticas. Em sua fala, Rodrigues reforçou também a importância de ações integradas em poder público, iniciativa privada e sociedade civil, cobrando a necessidade de investimentos em ações de prevenção. “Precisamos avançar nessa arquitetura de governança. A ciência ainda não dá conta de prever onde eventos extremos vão ocorrer. Por isso, é preciso trabalhar numa gestão de prevenção de risco”, completou.
Abeta Summit 2023
O lugar escolhido para a edição deste ano do Abeta Summit foi a cidade de Grão Mogol, na Cordilheira do Espinhaço, a maior cadeia de montanhas do país (a segunda maior da América Latina) e patrimônio reconhecido pela Unesco como Reserva da Biosfera. Durante os quatro dias do evento, que começou na quarta-feira (25), representantes do governo, empresários, especialistas do setor e viajantes falarão sobre perspectivas para o futuro do turismo de natureza do Brasil, destacando roteiros fora dos grandes centros e projetos turísticos que atuam para a transformação econômica e social do país. Também estão na pauta a redução das emissões de carbono, a preservação dos geoparques brasileiros e o uso de inteligência artificial no turismo.
Ao todo, serão mais de 52 horas de conversas, oficinas e mesas de negócios, além de espaço para apreciar a gastronomia local e visitas guiadas aos principais pontos da região, como o município de Botumirim, internacionalmente conhecido pela observação de pássaros, por ser o único lugar no mundo onde se pode avistar a rara espécie rolinha-do-planalto.
O Abeta Summit 2023 também sedia a 3ª edição da Exposição de Destinos (Re) Descobrindo o Brasil, espaço que apresenta atrações naturais e lugares ainda pouco conhecidos. No local, é possível experimentar simuladores de atividades de aventura, como a Tirolesa de Bike, no estande da empresa Natural Extremo, de Santa Catarina, e o voo de parapente no Pico da Ibituruna, no estande no município de Governador Valadares (MG), além de conhecer roteiros ecoturísticos de todas as regiões do país.
Sobre a Abeta
Criada em 2004, a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta) é uma organização sem fins lucrativos que reúne empresas e profissionais comprometidos com a prática sustentável de atividades ao ar livre. Atualmente, são mais de 120 empresas com sedes em 20 Estados e no Distrito Federal e que fortalecem o mercado de turismo, ecoturismo e turismo de aventura. Os associados Abeta estão presentes em diferentes regiões do Brasil e atuam com atividades como arvorismo, escalada, mergulho, balonismo e canoagem. Dentro do seu escopo de atuação, a Abeta possui um calendário de eventos e projetos, tornando-se referência nacional em capacitação, qualificação e treinamento em turismo, ecoturismo e turismo de aventura. Dentre os destaques quando o assunto são eventos voltados aos profissionais do setor, estão o Abeta Conecta e o Abeta Summit, que a cada ano ocorrem em cidades diferentes, como forma de reforçar a riqueza natural do país para o turismo.