Por: Klaus Richmond
Passageiros do navio Costa Diadema, que chegou nesta segunda-feira (3) ao porto de Santos (no litoral paulista), relataram medo e dificuldades ao deixarem a embarcação, mesmo entre quem não foi diagnosticado com Covid-19.
O desembarque aconteceu após a Anvisa interromper as atividades devido a pelo menos 68 casos da doença a bordo.
Segundo a consultora financeira Fernanda Alves, 30, eram recorrentes questionamentos até mesmo de parte da tripulação, principalmente comissários de bordo e atendentes filipinos, aos passageiros para obter novas informações e entender medidas que seriam tomadas.
"A partir do momento em que você está em um ambiente fechado, com pessoas que positivaram, há o medo de estar [com Covid]. Não sabíamos o que acontecia com aqueles que eram isolados. A informação era reduzida e estávamos sem internet", disse à reportagem.
"Os [tripulantes] filipinos eram os que mais tinham medo, creio que até pela barreira do idioma. Perguntavam a todo o instante para nós se sabíamos de algo, se existia algo novo", completa.
Fernanda viajou ao lado da amiga, a diretora comercial Priscila Marcon, 38. Ela conta ter tido dificuldades nos últimos dias até para se alimentar. Entre os relatos, havia lixo espalhado pelos corredores –os próprios passageiros ficaram responsáveis pela coleta– e dificuldade com a reposição de itens básicos de higiene como toalhas e papel higiênico.
"Começou um outro tratamento depois do anúncio da temporada cortada. Fomos assistidos, claro, mas a equipe ficou reduzida e tudo muito lento", comentou Fernanda.
"Esperávamos uma festa de Ano-Novo animada, mas acabou assim", acrescentou Priscila Marcon.
Aqueles que testaram negativo receberam como orientação cumprir isolamento em seus quartos, com permissão para sair apenas para se alimentar no restaurante. Mesmo após o surto, algumas pessoas ainda burlaram as recomendações para fazer uso da piscina.
"Faltou muita organização e informação. Os que positivaram tiveram falta até mesmo de água e comida, enquanto pessoas pulavam escondido na piscina", relatou o empresário Edmílson Araújo, 38.
A reportagem ouviu um dos passageiros que contraiu Covid. Ele conta que permaneceu isolado no segundo andar do navio ao lado de seus dois filhos.
Entre as reclamações, o café da manhã tardio, servido perto de meio-dia, e dificuldades para receber atendimentos médicos. Pedidos pessoais também não eram atendidos. O discurso foi minimizado por outros passageiros que testaram negativo.
"Não teve entretenimento, mas vou reclamar de que? Fomos bem tratados e ainda vão devolver integralmente o valor investido. Se me perguntarem, diria que faria novamente este cruzeiro, sim", explicou a empresária Simone Goraieb, 55.
"Os relatos são totalmente exagerados. Vejo como uma oportunidade da Anvisa de aparecer e até dos passageiros. Fomos muito bem tratados", completou o empresário Guilherme Pastro, 28.
A Anvisa ainda apura sobre a veracidade de uma festa de virada de ano, com imagens que circularam nas redes sociais, onde passageiros comemorariam a passagem de 2021 para 2022 sem máscaras mesmo em meio ao surto.
A agência diz que "se constatada irregularidade, os responsáveis serão penalizados". A pena pode ir de multa até a suspensão das atividades da embarcação.
"Teve festa de Reveillón com som, música e muita gente" ,afirma o administrador de empresas Cléber Freitas Gomes, 59.
A embarcação saiu com 3.836 viajantes e teria como destino Ilhéus (BA), mas retornou em meio a um surto do vírus. Assim como no MSC Splendida, a maior parte das infecções ocorreu entre os tripulantes –56 deles testaram positivo, com outros 12 entre os passageiros.
Foram autorizados a desembarcar em Salvador os viajantes com teste positivo, que ficarão em isolamento em hotéis já disponibilizados pela operadora do cruzeiro. Moradores da capital baiana também puderam sair da embarcação.
Em nota, a Costa Cruzeiros anunciou a interrupção das operações do Costa Diadema para os embarques em Santos em 3 e 10 de janeiro e os embarques em Salvador em 6 e 13 de janeiro.
A empresa disse que adota "rígidos procedimentos de saúde" para o embarque, como obrigatoriedade de apresentação do comprovante de vacinação e de teste negativo.
Procurada, a companhia não respondeu o que pode ter motivado o surto, tampouco se manifestou a respeito das reclamações de falta de assistência.
Diante do aumento dos casos de Covid nas embarcações, a Anvisa recomendou ao Ministério da Saúde na sexta-feira (31) a suspensão provisória da temporada de navios de cruzeiro, em caráter preventivo, até que haja mais dados disponíveis para avaliação do cenário epidemiológico.