O momento delicado que a economia de Portugal atravessa poderá resultar em uma maior aproximação com o País
Por Cláudio Magnavita
O momento delicado que a economia de Portugal atravessa poderá resultar em uma maior aproximação com o Brasil. Para um empresário brasileiro, o cenário em que vive hoje os irmãos portugueses é muito conhecido. As manchetes são similares aos dos nossos jornais de uma década atrás, principalmente quando tratam do socorro do FMI. Quanto maior é o sentimento de má vontade de alguns países europeus à ajuda à Portugal e à Grécia, maior é a chance de crescer a importância do Brasil neste processo.
No atual quadro, o brasileiro já está salvando o turismo português. O fluxo de brasileiros desembarcando em Lisboa já reflete na taxa de ocupação dos hotéis. É hoje o país que lidera o fluxo internacional em Portugal, fato ajudado pela capilaridade de voos da TAP, que transformaram o aeroporto da capital portuguesa no mais amigo dos brasileiros.
A valorização do real e a facilidade de voos diretos de dez cidades brasileiras estão promovendo uma enxurrada de brasileiros, que além das conexões, estão se sentindo atraídos pelo país irmão.
Neste contexto, o Brasil não pode ficar omisso com as oportunidades que estão surgindo no plano empresarial. Se há alguns anos o país atraía os nossos imigrantes, agora começa a atrair investidores verde-amarelos, que, com um real turbinado, podem ter facilidades de colocar o pé no mercado comum europeu com condições impensáveis no passado.
A primeira leitura é que Portugal não deve ser visto como um país de 9 milhões de pessoas, mas como a porta para um mercado de 491 milhões de pessoas, o total da população do mercado europeu. A segunda é que estamos acostumados como nenhum outro povo a um ambiente de adversidade econômica. O que assusta os demais, para o brasileiro foi rotina durante décadas. Terceira leitura, como as fontes de financiamento secaram por lá, tem muita gente paralisada por não saber como gerir um negócio sem linha de crédito. Não é exatamente o que fazemos até hoje?
Dentro deste quadro, o que surge em Portugal é um cenário de oportunidades. Não está na hora de internacionalizar as nossas empresas e os nossos negócios. Se temos um país sem barreiras idiomáticas e que é quase uma extensão da nossa realidade cultural, por que não nos colocarmos como uma solução? A Grécia pode se dar ao luxo de ter um país que é a sétima economia do mundo como aliado e pronto para socorrê-la, como é o caso do Brasil com Portugal?
O mundo dos negócios é regido por oportunidades. A oportunidade que se apresenta precisaria de algumas facilidades. Acordos bilaterais que permitissem o desembarque do capital brasileiro, que dessa às empresas luso-brasileiras um status diferenciado. Que ampliasse as questões burocráticas de considerar legalmente um brasileiro como estrangeiro em Portugal, principalmente o que quer comprar participação de negócios locais. O momento é de aproximação absoluta.
Um exemplo concreto é a privatização da TAP. Alguém no Brasil percebe a companhia como uma empresa aérea estrangeira? A Air Portugal representa hoje um dos maiores ativos das ligações do nosso país como o mundo. A sua privatização deve ser analisada dentro de um ponto de vista estratégico para o Brasil. Portugal se tornou um hub de brasileiros para a Europa, mas principalmente de europeus para o Brasil. É um exemplo concreto de quem conectou a nossa economia com a força de quase 500 milhões de consumidores europeus.
Além da visibilidade do transporte de passageiros, existe também o de carga. O voo de Belo Horizonte tem os seus porões lotados de carga da Fiat Betim para Turim e vice-versa. Neste momento, a TAP age como uma empresa brasileira.
Conectar o sul brasileiro, com um voo de Porto Alegre direto para Europa, seria impensável há 10 anos. Ele vai existir dentro de 45 dias voando direto dos Pampas para Lisboa. O porão deste A330 estará a serviço dos empresários gaúchos.
Não se pode deixar de registrar que a descentralização dos voos da TAP, partindo hoje de Brasília, Campinas, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Belo Horizonte e Porto Alegre, ajudam a resolver o problema aeroportuário brasileiro. Imaginem se todo este fluxo de passageiros fosse dirigido para o Galeão e Guarulhos? O caos seria total!
A TAP trouxe para a aviação do Brasil a cultura do mercado europeu, que até a própria Varig não possuía no passado. A capilaridade dos voos na Europa é um ativo que o Brasil não pode abrir mão. É por isso que a privatização da companhia deve nos interessar e muito! É um patrimônio que o Brasil não pode perder.
A privatização da TAP deve ser do interesse maior de empresários brasileiros e o Governo não deve medir esforços para viabilizar fórmulas que permitam uma solução verde-amarela para esta questão.
Sabem porque a TAP descobriu o Brasil de forma premonitória? Porque tinha na sua gestão profissionais brasileiros que conheciam os dois mercados e encararam o desafio como um empresa europeia e não como uma portuguesa. Fernando Pinto, Luiz da Gama Mór, Manuel Torres e Michel Connolly construíram uma matriz integração luso-brasileira que serve também para outros negócios entre os dois países.
Em um passado recente, assistimos ao desembarque de grupos portugueses que, para crescer, miraram no Brasil. No turismo, foi o caminho do Pestana, do Vila Galé e do grupo Espírito Santo. Agora está na hora dos brasileiros fazerem o contrário.
O pacote de reformas que Portugal será obrigado a realizar, para conseguir os 78 bilhões de euros do FMI, deixará o país muito mais moderno e ágil, principalmente na questão trabalhista. São medidas que desenharão um Portugal muito mais agressivo e competitivo. A crise portuguesa cria um quadro que não assusta os brasileiros. Podemos ser a solução e ganharemos um plataforma europeia para os interesses das nossas empresas. A privatização da TAP é apenas a mais visível das oportunidades que surgirão. Cláudio Magnavita é presidente do Jornal de Turismo e membro do Conselho Nacional de Turismo