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Projeto Ecoassociados promove o monitoramento de mais de 200 ninhos que formam um espetáculo natural pelo balneário de Porto de Galinhas

Protegidas pelo manto noturno, fêmeas de quatro espécies de tartarugas marinhas visitam o balneário pernambucano de Porto de Galinhas, entre setembro e abril, arriscando sair das ondas para as areias com a intenção de preparar seus ninhos. Silenciosa, a equipe da ONG Ecoassociados passa as noites monitorando 12 quilômetros de praias para acompanhar o processo e, assim, proteger o futuro destes animais.

“Só em um ano chegamos a liberar mais de 45 mil filhotes para o mar. Foram dezenas de aberturas de ninhos e milhares de turistas e moradores que puderam acompanhar esse espetáculo”, conta Arley Candido, diretor da Ecoassociados, que, entre setembro e abril de 2015, já identificou e cercou mais de 30 ninhos para garantir que não sejam atacados por animais domésticos, pisoteados, atropelados por bugues ou danificados inadvertidamente.

O período de desova ocorre exatamente no intervalo destes oito meses e, até o momento, já foi registrado o nascimento de cerca de 1.700 filhotes, segundo a bióloga Thyara Simões, da Ecoassociados. A ONG, que conta com apoio da Prefeitura do Ipojuca e a contribuição do Porto de Galinhas Convention & Visitors Bureau, promove aulas gratuitas de responsabilidade ambiental para centenas de crianças da rede pública de ensino local.

A entidade também conscientiza turistas brasileiros e estrangeiros sobre os riscos que o lixo, a caça predatória, a pesca comercial que não respeita períodos de desova e o limite mínimo de distância da praia, entre outras práticas, oferecem para a sobrevivência das tartarugas. O perigo de extinção é permanente, muito embora milhares nasçam todos os anos. A questão é puramente estatística, já que, de cada grupo de mil, apenas uma ou duas chegam à idade adulta.

“Uma tartaruga alcança a maturidade por volta dos 25 anos, quando retornará à sua praia de nascimento para desovar. Por isso, quando um ninho é destruído ou uma tartaruga é morta por pesca ilegal, lixo confundido com alimento ou por caça predatória, com ela vão várias novas gerações”, explica Candido. Segundo o ativista, o tempo de incubação dos ovos varia de 45 a 60 dias e varia de acordo com a temperatura – em anos mais quentes, há maior incidência de nascimento de fêmeas; e nos frios, mais machos. “Não há como identificar isso no momento da soltura, mas fazemos estimativas com base em estudos e, inclusive, temos uma mestranda na entidade preparando uma tese sobre o tema”, complementa, orgulhoso.

Com uma equipe de oito pessoas e 16 estagiários, entre estudantes de biologia e veterinária, a ONG dá suporte a uma pesquisa sobre desenvolvimento embrionário e a um mapeamento genético a partir de amostras retiradas dos filhotes. “Não apenas protegemos ninhos e educamos as pessoas. Também fazemos a biometria das fêmeas que vêm à praia, marcando-as com anilhas para ajudar na identificação aqui e em outros pontos geográficos do mundo. Ainda conscientizamos os empreendimentos hoteleiros da região sobre a importância de não iluminarem as praias no período noturno. Sem contar que é importante preservarem a vegetação nativa da costa, a chamada restinga de praia”, destaca Candido.

O projeto teve sucesso junto aos hotéis locais e, dessa maneira, garantiu que os empreendimentos planejassem a iluminação para que a luz não incidisse nas praias durante a noite, evitando afugentar ou confundir as mamães tartarugas que precisam desovar. A intenção é ampliar a área de cobertura de monitoramento para 32 quilômetros até o fim de 2015. “Nós não trabalhamos somente com as tartarugas. Também temos atividades científicas para a preservação do ambiente recifal e das espécies nativas de baobás. Nossa maior dificuldade é a obtenção de financiamento. Mas da mesma forma que, com o projeto, tivemos um salto de 15 para 200 ninhos por ano na região e criamos outro atrativo turístico além das praias, a ampliação de nossa atividade só tem a agregar valor à região e estamos certos de que essa dificuldade será superada”, observa.

Positivo quanto ao futuro da entidade e da conservação das diversas espécies de tartarugas marinhas, Candido finaliza: “Já conheci muitas pessoas que voltam a Porto de Galinhas só para acompanhar, novamente, a abertura de ninhos, trazendo amigos, filhos e crianças. Aliás, a meninada adora e fica encantada, assim como os visitantes estrangeiros. Muitos dizem que só este momento já vale a viagem inteira, algo muito gratificante para nós”, conclui.