Por: Douglas Gavras
Com a assinatura dos mais recentes contratos do programa de concessões de aeroportos, o equivalente a 91,6% do volume de passageiros transportados será repassado a agentes privados, segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), de 2011 a 2022.
A estratégia do governo tem sido juntar aeroportos cobiçados com terminais deficitários, para equilibrar os blocos. No leilão mais recente, da sétima rodada de concessões de aeroportos e que ocorreu em agosto deste ano, outros 15 aeroportos foram arrematados, agrupados em três blocos.
O principal deles, Congonhas (SP), entrou no radar da espanhola Aena -que já tinha sob sua responsabilidade seis terminais no Nordeste.
Além dela, entre os vencedores dos leilões que têm mudado a cara dos principais terminais brasileiros há desde consórcios formados por empresas que já operavam em outros modais -como a CCR e Socicam- a operadoras de grande porte da Europa, como a francesa Vinci, a alemã Fraport e a suíça Zurich.
Veja quais são elas:
- Bloco Nordeste
Aracaju (SE), Campina Grande (PB), João Pessoa (PB), Juazeiro do Norte (CE), Maceió (AL) e Recife (PE)
- Bloco SP/MS/PA/MG
Altamira (PA), Campo Grande (MS), Carajás (PA), Congonhas - São Paulo (SP), Corumbá (MS), Marabá (PA), Montes Claros (MG), Ponta Porã (MS), Santarém (PA), Uberaba (MG) e Uberlândia (MG)
Em 2019, a Aena ganhou a concessão de seis aeroportos no Nordeste, incluindo o de Recife, Maceió e João Pessoa, com um lance de R$ 1,9 bilhão e R$ 2,15 bilhões em investimentos.
Em agosto de 2022, o grupo espanhol também foi o único interessado no bloco que incluía a chamada jóia da coroa da mais recente rodada de leilões, o aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A Aena arrematou o terminal paulistano e mais dez aeroportos com uma oferta de R$ 2,45 bilhões (ágio de 231%).
A Aena, cujo principal acionista é o governo espanhol, também opera o aeroporto de Madri-Barajas, um dos mais movimentados da Europa, além de controlar outros 45 aeroportos do país, um no México, dois na Colômbia e dois na Jamaica. Recentemente, o grupo recebeu avaliação negativa na administração do aeroporto do Recife, com falhas observadas nos sistemas de processamento de bagagens no embarque e de devolução das bagagens.
Bloco Central
Goiânia (GO), Imperatriz (MA), Palmas (TO), Petrolina (PE), São Luís (MA), Teresina (PI)
Bloco Sul
Bacacheri - Curitiba (PR), Bagé (RS), Curitiba (PR), Foz do Iguaçu (PR), Joinville (SC), Londrina (PR), Navegantes (SC), Pelotas (RS) e Uruguaiana (RS)
Em 2021, a CCR venceu o leilão do Bloco Central, com um lance de R$ 754 milhões (ágio de 9.156%) e previsão de R$ 1,8 bilhão em investimentos nos seis terminais aéreos. Os aeroportos do bloco transportaram cerca de 7,3 milhões de passageiros em 2019, e está previsto que a movimentação de passageiros aumente 208% ao longo dos 30 anos de contrato (22,5 mi).
Já o Bloco Sul teve contribuição inicial de R$ 2,128 bilhões e ágio de 1.534,36% sobre o lance mínimo inicial de R$ 130,2 milhões. O grupo é formado por nove aeroportos e, juntos, os terminais transportaram cerca de 12,4 milhões de passageiros em 2019. Em 30 anos, a soma de passageiros transportados por esses aeroportos pode chegar a cerca de 27 milhões.
O grupo entrou no segmento de aeroportos em 2012. Em outras operações, a companhia é responsável por 3.615 quilômetros de rodovias da malha concedida nacional, em cinco estados. Além disso, a CCR está no segmento de transporte de passageiros, por meio de concessionárias, como a ViaQuatro (Linha 4 do Metrô) e a CCR Metrô Bahia.
> Socicam (em parcerias):
Bloco Centro-Oeste (Consórcio Aeroeste - Socicam e Sinart)
Alta Floresta, Cuiabá, Rondonópolis e Sinop (todos em MT)
Bloco Norte 2 (Consórcio NovoNorte - Socicam/Dix Empreendimentos)
Belém (PA) e Macapá (AP)
A empresa tem 24 terminais aeroportuários sob sua gestão no país. Em agosto passado, a Socicam –que também administra terminais de passageiros, como a rodoviária do Tietê, em São Paulo– e a Dix Empreendimentos (que já operava terminais no Nordeste) arremataram o bloco que abrange os aeroportos de Belém (PA) e Macapá (AP). A oferta do consórcio chamado NovoNorte foi de R$ 125 milhões (ágio de 119,78%), e conseguiu ganhar de uma oferta da Vinci, de R$ 115 milhões.
O movimento reforçou a tendência de operadores de terminais rodoviários ampliarem sua área de atuação com a gestão de aeroportos. Três anos antes, em 2019, a Socicam já havia conquistado com o consórcio Aeroeste, formado em parceria com a Sinart, quatro aeroportos em Mato Groso, com um lance de R$ 40 milhões e investimentos previstos de R$ 770,6 milhões.
> Fraport Brasil:
Fortaleza (CE) e Porto Alegre (RS)
Em 2017, a Fraport, que havia perdido a disputa pelo aeroporto do Galeão quatro anos antes, foi a concorrente mais agressiva daquela rodada de concessões. A empresa alemã levou os aeroportos de Fortaleza (com uma oferta de R$ 425 milhões) e de Porto Alegre (R$ 290,5 milhões).
A empresa se beneficiou de uma mudanças nas regras, que pemitiu que o mesmo grupo conseguisse dar lances em terminais que ficam em regiões diferentes.
Segundo o grupo, o complexo do aeroporto de Frankfurt, que é a sua base, chega a empregar mais de 80 mil pessoas. O portfólio da Fraport abrange quatro continentes, com atividades em 31 aeroportos em todo o mundo. No ano fiscal de 2019, ela teve lucro de cerca de EUR 454 milhões (R$ 2,35 bilhões).
> GRU Airport:
Guarulhos - São Paulo (SP)
Com a assinatura do contrato de concessão, em 2012, foi formada a concessionária do Aeroporto Internacional de Guarulhos S.A., com 51% das ações pertencentes à Grupar (Grupo Invepar e ACSA, da África do Sul) e 49%, à Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária).
Em fevereiro de 2013, a concessionária assumiu a gestão integral do maior terminal de passageiros da América Latina. Para atender à crescente demanda, entre as principais obras estão a construção do novo terminal de passageiros (T3), que entrou em operação em maio de 2014, e o projeto de modernização dos Terminais 1 e 2, cujas obras foram entregues no segundo semestre de 2016.
> Inframérica:
Brasília (DF)
Em 2012, o consórcio que inclui a Inframérica arrematou o terminal de Brasília pagando R$ 4,5 bilhões de reais ou 673% acima do pedido pelo governo.
Uma década após ter vencido o leilão, a Inframérica, que é parte da multinacional argentina Corporación América, deve tirar do papel um projeto de desenvolvimento imobiliário de R$ 700 milhões de investimento.
O complexo inclui um shopping, um centro de logística e um centro de entretenimento. Além de ser um dos aeroportos mais movimentados do país, o terminal de Brasília também tem o atrativo de contar com voos diretos para todas as capitais.
> Vinci Airports:
Bloco Norte
Boa Vista (RR), Cruzeiro do Sul (AC), Manaus (AM), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Tabatinga (AM) e Tefé (AM)
Aeroporto de Salvador (BA)
Com oito terminais no Brasil, a Vinci administra sete terminais na região Norte. O bloco formado pelos aeroportos de Manaus, Porto Velho, Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Tabatinga, Tefé e Boa Vista, foi arrematado em 2021 por R$ 420 milhões, com ágio de 777,47% em relação ao lance mínimo inicial.
Na época, o grupo francês indicou que a região amazônica representa uma sinergia com sua operação na Guiana Francesa, que tem voos direto para Paris.
No total, o grupo francês opera 53 aeroportos em 12 países da Europa, Ásia e América. A Vinci também já havia conquistado o aeroporto de Salvador em 2017, com uma oferta superior a R$ 660,9 milhões. A oferta mínima para Salvador era de R$ 310 milhões.
> XP Infra IV:
- Bloco Aviação Geral
Campo de Marte - São Paulo (SP) e Jacarepaguá - Rio de Janeiro (RJ)
Em agosto de 2022, a XP Infra IV arrematou o bloco formado pelos aeroportos do Campo de Marte (SP) e o de Jacarepaguá (RJ), sendo a única concorrente, com uma oferta de R$ 141,4 milhões –ágio de 0,01%.
Segundo a empresa, o movimento marca a sua entrada no setor, por meio da XP Asset.
O bloco, chamado de "Aviação Geral", contempla operações que não são de voos regulares –sobretudo de helicópteros e aviões particulares e de pequeno porte. A estimativa da Anac é que a movimentação nos terminais chegue a 700 mil passageiros em 30 anos, quando termina o contrato.
Os representantes do fundo da XP atribuíram parte do interesse pelos aeroportos ao potencial de exploração imobiliária. Além disso, eles esperam que uma parte da aviação executiva de Congonhas seja absorvida pelo Campo de Marte nos próximos anos, o que deve aumentar a receita.
> Zurich Airport:
- Bloco Sudeste
Florianópolis (SC) Macaé (RJ) e Vitória (ES)
- BH Airport (em parceria com a CCR):
Confins - Belo Horizonte (MG)
O grupo Zurich Airport opera terminais em diversas partes do mundo: além do aeroporto de Zurique, na Suíça, e dos terminais de Florianópolis, Vitória, Macaé e Belo Horizonte, no Brasil, a empresa tem investimentos em Bogotá (na Colômbia), Curaçao (no Caribe) e Iquique e Antofagasta (no Chile).
Em 2019, a companhia suíça venceu o leilão dos aeroportos de Vitória e Macaé, com uma proposta de R$ 437 milhões.
Em Belo Horizonte, o grupo suíço opera desde 2014 com o grupo CCR o Aeroporto Internacional Tancredo Neves. A empresa suíça também arrematou o projeto de Florianópolis em 2017, com uma oferta de R$ 83 milhões. A proposta inicial mínima era de R$ 53 milhões. Florianópolis foi o aeroporto mais disputado daquela rodada, tendo sido alvo de 11 lances.