Por: Thiago Bethônico
"Com todo respeito, você não deveria usar salto agulha dentro de uma aeronave."
O aviso é dado em inglês por uma representante da Gulfstream, ao notar os sapatos que uma visitante usa ao passear e tirar fotos dentro de um dos jatinhos da empresa.
O salto, ela diz, pode acabar danificando o carpete do luxuoso G500, modelo que custa em torno de US$ 50 milhões (R$ 240 milhões) e tem capacidade para até 19 passageiros.
A aeronave é uma das cinco que estão expostas no Catarina Aviation Show, evento de aviação executiva que começou nesta quinta-feira (2), em São Roque (a cerca de 70 km da capital paulista).
Para esta primeira edição, o local escolhido foi o Aeroporto Catarina, o primeiro aeródromo privado do Brasil a receber voos internacionais. Foi nele que o bilionário Elon Musk pousou seu jatinho quando veio ao Brasil no último dia 20 de maio –coincidentemente, a bordo de um Gulfstream.
Exclusivo para convidados, o encontro é voltado para o mercado de aviões e helicópteros, mas também reúne outras experiências de luxo.
Dentro do hangar, os visitantes podem comer numa versão reduzida do restaurante Fasano, beber uísque no estande da Johnnie Walker ou comprar peças da grife italiana Brunello Cucinelli.
Do lado de fora, também é possível fazer test-drive em carros Audi, Jaguar e Land Rover.
No primeiro dia do evento, que vai até sábado (4), o público era composto principalmente por pilotos, profissionais de setores ligados à aviação e convidados de empresas. Entre conversas de negócios e visitas ao interior dos superjatinhos, o que não faltavam eram selfies.
O Catarina Aviation Show foi promovido pela JHSF, companhia de shoppings e do setor imobiliário que é dona do Aeroporto Catarina, em parceria com a NürnbergMesse Brasil, uma das maiores empresas de promoção de eventos do mundo.
De acordo com os organizadores, o objetivo é aproximar marcas e interessados na aviação executiva, mercado que tem vivido um boom desde o início da pandemia.
Nos últimos meses, a demanda por aviões particulares cresceu tanto no Brasil que para conseguir comprar uma aeronave nova, milionários e bilionários estão precisando enfrentar filas de espera que podem durar anos. Nem mesmo no evento era possível encontrar modelos para pronta-entrega com facilidade.
Quase todos os cinco aviões e três helicópteros que estavam lá eram apenas para exposição aos visitantes. O Gulfstream G500, por exemplo, foi "emprestado" ao evento pelo seu dono –segundo a empresa, um argentino que mora no Uruguai.
A Gualter Helicópteros, empresa que trabalha principalmente com aeronaves usadas, era a única a ter uma unidade à venda durante o encontro: um helicóptero Agusta A109E Power.
"Tenho 35 anos nesse mercado e nunca vi algo parecido com o que nós estamos passando", diz Gualter Pizzi, dono da companhia.
Segundo ele, os prazos de entrega estão muito longos. Para um Robinson R66, por exemplo -que é considerado um modelo de entrada entre os helicópteros a turbina-, Pizzi estima um período de 15 a 20 meses.
O modelo vale cerca de US$ 1,5 milhão (R$ 7,18 milhões), com um custo fixo de R$ 50 mil por mês. Isso com a aeronave parada, ele diz, considerando apenas despesas com piloto, hangar e seguro.
Entre os jatinhos, o prazo de espera pode ser ainda maior. Sergio Beneditti, diretor da Plane Aviation, diz que para alguns modelos a fila ultrapassa os três anos.
A companhia é representante exclusiva das marcas Cirrus e Maule no Brasil. O Cirrus SF50 Vision -avaliado em US$ 3,7 milhões (R$ 17,7 milhões)- era um dos que estavam expostos no evento e, segundo ele, há mais de 400 compradores aguardando. "Atualmente, um cliente interessado em comprar a aeronave só consegue em 2026", afirma.
Beneditti explica que a fabricante entrega aproximadamente cem unidades por ano e, mesmo com o boom na demanda, não consegue aumentar sua produção por causa da disrupção na cadeia de suprimentos. "Não tem turbina, não tem disco de freio, não tem mão-de-obra... É o colapso que a Covid colocou no mundo inteiro."
De acordo com o executivo, o mercado de jatinhos poderia estar ainda maior, já que a volatilidade do dólar e alta de juros são fatores que costumam frear o desempenho do setor. Por outro lado, ele avalia o atual cenário econômico de forma positiva e diz que problemas como inflação alta estão acontecendo no mundo inteiro.
"Sinceramente, não posso reclamar de como as coisas andaram no ano passado e neste ano [na economia]. Nós estamos indo bem", diz.